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A missa

“A missa de um mês do meu pai me fez refletir tanto…

Não houve missa? Por que você não me chamou? Eu não disse nada a ninguém.

Sim, houve a missa, mas fui sozinha, apenas com meus pensamentos.

Estava sozinha porque precisava. Egoísmo? Acho que não; eu desejava o silêncio em meio ao caos.

Desde criança, sempre gostei de brincar sozinha.

Eu precisava desse momento com Deus, a sós.

E como filha, precisava desse tempo só.

O pior foi que o padre esqueceu de mencionar o nome do meu pai, e nesse instante pensei: ‘Ufa, não chamei, ninguém’.

Tive medo de não conseguir ir, mas fui eu e minha jaqueta de bailarina.

Afinal, meu pai apreciava meus bordados.

Fui eu, minhas agulhas e linhas, a menina que sempre gostou de passar horas sozinha e

precisava de uma missa a só.

De certa forma, meu pai sabia que tinha uma filha artista, que sempre viveu em seu próprio universo, e precisava se despedir assim…. ”

 

Exposição- Pomar

Exposição no centro cultural dos correios do Rio de janeiro convite da Pomar ( clinica pomar ) professoras Angela e Marcia costa

Bailarinas bordadas na meia calça do Ballet

O balé, arte que transcende a dança, é um espaço onde sonhos se entrelaçam com a

realidade. Meias-calças utilizadas nas aulas de ballet, embora simples em sua essência,

carregam em si um mundo de histórias, aspirações e a magia do movimento. Ao refletir

sobre uma exposição de bailarinas bordadas nessas meias, recordo-me da menina que

sonhou em dançar, que via as meias não apenas como acessórios, mas como portadoras de suas esperanças.

Cada meia-calça que cruzei durante as minhas aulas  possui um significado profundo.

Lembro-me das primeiras meias calças que vesti, rosas e delicadas, símbolo da inocência e

da expectativa de crescimento. Eram as meias da menina que sonhava em fazer balé,

ansiando por cada passo que a levasse mais próximo de seu grande sonho. Com o passar

do tempo, essas meias se tornaram tela para meu entusiasmo e, posteriormente, para meu

trabalho artístico, onde o bordado se transforma numa nova forma de expressão.
A proposta da exposição, apresentando bailarinas bordadas nas meias-calças, redefine a

relação entre o objeto e a artista. Cada bordado é uma expressão única de sentimentos,

memórias e experiências vividas. Utilizando a técnica do bordado, as meias transformam-

se em narrativas visuais que dançam aos olhos de quem as observa. Os fios entrelaçam-se

como passos coreografados, criando uma simbiose perfeita entre arte e movimento. A

cada fio puxado, uma nova história é contada.

Esta exposição evoca a ideia de que o balé não é apenas uma prática, mas uma forma de

arte que envolve medo, coragem, dedicação e, principalmente, a busca pela perfeição. Os

bordados nas meias calças são reflexos das emoções que a dança provoca: a alegria de

uma pirueta bem executada, a tristeza de um dia difícil e a esperança de dias melhores.

Cada detalhe do bordado traz à tona a complexidade da experiência de ser bailarina,

transformando o mais cotidiano dos acessórios em uma poderosa obra de arte.

Além disso, o conceito de imortalizar esses momentos em forma de arte se revela

essencial. As meias, que um dia estiveram afixadas a pés sonhadores, ganham uma nova vida.

O bordado perpetua a memória da dança, fazendo com que as emoções vividas em cada

aula sejam eternizadas em tecido. Torna-se uma maneira de honrar o passado, ao mesmo tempo que se projeta para o futuro — uma relação cíclica, onde o que foi vivido é transformado em arte.

Assim, ao admirar as bailarinas bordadas expostas, somos convidados a refletir não apenas sobre a técnica de dança, mas sobre a jornada emocional que a acompanha.

Essas meias-calças, aparentemente simples, tornam-se vasos para sonhos e realizações,

expressões que quase dançam diante de nós. A arte do bordado abre um diálogo profundo

entre o espectador e o artista, convidando todos a revisitar suas próprias memórias e

experiências, ressoando com a essência do balé que, assim como a vida, é uma dança

constante entre o sonho e o real.

Em suma, a exposição é uma celebração da beleza do balé e a força da arte em nos conectar com nossas próprias histórias.

As meias da menina que sonhou em dançar, agora bordadas, são herdeiras dessa paixão eterna, ecoando a mensagem de que todo passo dado é um passo de amor à arte.

 

 

Dias intensos

Estes dias tem sido tão Intensos que estava assemelhando tudo para vir aqui escrever!

Acho que de certa forma faltava palavras a exposição dos bordados do curso da Marian Cvik dois anos bordado pela tela do computador e lá estavam as minhas colegas de tela agora ao vivo com os seus bordados para mim foi uma experiência forte ainda mas por que a exposição era de auto-retratos ,

um autorretrato para mim nunca foi só um desenho ou um bordado tem muito de mim lá !

E foi uma experiência incrível agradeço a Marian as minhas colegas Adriana Gragnani,  Maria.Luiza.Batista, Maria Augusta gomes martins Sonia Maria Bianco,  Christina Cupertino ect e claro um agradecimento especial a Giuli sommantico muito obrigada…

E o dia do diploma chegou agora posso dizer que sou uma arteterapeuta foi difícil teve momentos complicados estágios tiveram que ser on-line por causa da pandemia!

A turma que começou com 40 restaram 12

amigos arteterapeutas que vão ser para sempre um pedaço do meu caminho !

Eu tenho uma lista para agradecer primeiro a minha psicóloga querida karla Fioravante eu me lembro como se fosse hoje o dia que cheguei no consultório com os papéis da pós e ela com toda paciência foi olhando cada matéria , e Ka obrigada pelo incentivo de sempre

as minhas professoras queridas Regina Dilaina e Adriana as aulas da Tania Freire que me fez  entrar em outra pós , agora de arte reabilitação a minha companheira de estágio carla
A minha querida e para sempre amiga Zan Mesquita ao Renato Dib colega de pós e meu professor na superbacana mais , celina, vi saquetii , Mauro, Giane, Solange, Vivi,  Vilma ! Obrigada a cada um … e ao instituto Freedom , arteterapia instituto Freedom

 

Para a minha Amazônia bordada

Para Bruno e Dom

Para a minha Amazônia bordada

Para a Amazônia

Para o povo da Amazônia

Para os nossos primeiros habitantes

Para a cultura indígena

Para a Amazônia viva

Para tudo o que eu acredito

Para a uma vida melhor para todas as futuras gerações

Para a Amazônia

Para a Amazônia viva

Para o pulmão do mundo….

Entre Livros e Agulhas: O Bordado da Memória Pessoal – Olivia

Quero falar sobre uma memória bordada: a memória da tia  Olivia, e de sua arte como bordadeira.

Ela passava horas dedicando-se a bordar lembranças de um tempo, narrando as histórias do interior do Paraná dos anos 50.

Enquanto buscava um caminho para o meu trabalho de conclusão de curso, deparei-me com as palavras “Tempo” e “Memória”, que me levaram à história da Olivia.

A figura dela foi se desvelando nas páginas do livro “Bisa Bia, Bisa Bel”, da escritora brasileira Ana Maria Machado, nascida no Rio de Janeiro em 1941 e vencedora do Prêmio Hans Christian Andersen, entre outros.

Meu encontro com a literatura de Ana Maria Machado aconteceu tardiamente, aos doze anos, em uma noite fria de inverno, na lanchonete do clube, saboreando um chocolate quente. Era a fusão dos sabores das noites geladas de meados dos anos 90.

Entre Livros e Agulhas: O Bordado da Memória Pessoal

Ao refletir sobre a permanente tensão entre livros e agulhas, percebo como a arte da escrita e a delicadeza do bordado se entrelaçam de maneira intrínseca na construção de minha memória pessoal.

A literatura, como um estilhaço de fios que se cruzam, forma um grande bordado, unindo histórias, vivências e afetos. Essa relação me remete à obra de Ana Maria Machado, que, com maestria, borda memórias através de seus personagens, revelando a íntima conexão entre passado, presente e futuro.

Assim como Bel, a personagem central, encontramos ao longo de nossa vida pequenos fragmentos que nos conectam a gerações passadas. A arrumação da mãe de Bel, que revela uma foto oval da avó Bia, é uma metáfora potente para o que ocorre com nossas memórias. A imagem da avó, como uma boneca, não é apenas um retrato; é um elo que liga passado e presente — um ponto essencial no grande bordado da vida. Essa foto não tem apenas um valor estético; carrega um peso emocional que nos faz questionar a condição da mulher, ao longo das eras, e suas transformações.

A menina Bel, ao levar a foto para todos os lugares, simboliza o poder da imaginação e a importância da memória na formação de nossa identidade. Em cada esquina da escola e cada pátio do prédio, ela leva consigo uma parte de sua história, assim como nós, em nossa jornada, carregamos os ecos das experiências que nos moldam. O entrelaçamento das gerações — Bia, Bel e a bisneta Beta — sugere que, a cada novo ponto no bordado, não apenas o presente é iluminado, mas também o futuro é costurado com os fios da tradição, das vivências e dos legados recebidos.

Essa linha do tempo entrelaçada traz à tona a diferença entre as experiências femininas de hoje e de outrora. O que significa ser mulher em um mundo que constantemente se transforma?

É um questionamento profundo que reverbera em cada página lida e em cada lembrança revisitada. Assim como o bordado, temos a capacidade de fazer emendas, de unir retalhos da nossa trajetória, costurando nossas dores e alegrias numa tapeçaria única.

Na busca por entender essas conexões, encontrei em minha própria memória a figura de Olivia, uma presença que, assim como Bia e Bel, traz consigo a capacidade de transformar o que passou e o que está por vir.

Olivia representa os laços familiares e a continuidade de um legado preenchido de histórias e vivências que só se tornam mais ricas com o passar do tempo. Através dela, percebo que a escrita se torna uma agulha, unindo narrativas e experiências num compasso delicado.

Portanto, ao me deparar com a obra de Ana Maria Machado e suas personagens entrelaçadas, eu me vejo em um grande bordado — cada ponto representa uma memória, cada fio é uma história que se cruza. Assim, minha permanência na tensão entre livros e agulhas não é apenas uma luta interna, mas uma celebração das múltiplas identidades que habito e que me habitam.

O embrulho de passado, presente e futuro, onde todas essas histórias encontram espaço para coexistir, forma não apenas uma narrativa pessoal, mas um vibrante bordado da vida.

Olivia não ficou registrada em papel fotográfico; ela não foi guardada em uma gaveta, mas está bordada na memória da minha tia. Às margens do Rio Adelaide, a Olivia que a minha tia recorda tinha uma máquina de costura e bordava poesias de um outro tempo. Irmã de Jorge, devoto de São Jorge, filha de Chico Belo, e tia de Eroni, minha tia, que também sabe bordar, fez do bordado um meio de contar histórias.

O bordado entrou na minha vida para narrar a história da minha tia, bordando sua trajetória para uma exposição que celebrava sua vida. Durante o percurso da pós-graduação, reencontrei Bisa Bia, Bisa Bel e Olivia, todas presentes nas memórias da máquina de costura e do seu linho branco, pronto para fazer um novo lençol com flores bordadas.
Bordados contam histórias.

bordado da ti

Hoje é dia 10 de setembro!

**Amanhã é dia 11 de setembro.**

Amanhã…

Hoje é dia 10 de setembro!

Se alguém me perguntasse o que eu estava fazendo no dia 11 de setembro há vinte anos,

eu saberia responder. Mas, se me perguntassem sobre o dia 10 de setembro daquele

mesmo ano, também saberia! Lembro até da roupa que estava usando, graças à minha

memória fotográfica.

Estava no aniversário da minha avó, em uma pizzaria de Moema.

Os anos se passaram, mas a mesma pizzaria continuou fazendo parte da minha vida.

Hoje, sei que não terá pizza nem bolo, mas espero que este texto chegue a ela de alguma forma.

Vale a pena uma homenagem! Minha avó me ensinou a escrever, confeccionou uma

roupinha de bailarina para mim e me ensinou a apreciar café, groselha e biscoito de

maisena. Tem coisa melhor que isso? Obrigada, vó! Da sua única neta menina. (Está faltando meninas nesta família!)

Eu estava aguardando o dia 10 para escrever, expressar-me através de cada palavra e lembrar que, de alguma forma, continuo aqui!

**Eu sou aceitação**

**Eu sou aceitação**

Eu me aceito.

Eu sou aceitação.

Já briguei com ela algumas vezes—com a aceitação.

Mas agora estamos em harmonia.

Caminhamos de mãos dadas

Pelos campos floridos da vida.

Andamos entre flores, mares e estradas internas,

Construídas por cada retalho deste grande mosaico

Que eu sou.

Eu me aceito,

Assim como sou, com meus cabelos castanhos lisos e meus inúmeros óculos,

Para enxergar o mundo de maneira mais clara. Falo isso de forma figurativa,

Porque, no sentido abstrato, eu vejo com o coração.

Eu me aceito assim, com o pé um pouquinho voltado para dentro.

Não havia um jogador assim,

Então por que não uma bailarina?

A arte da sapatilha,

A arte da bola,

A arte da vida,

A arte da transformação,

A arte da aceitação.

A arte de se aceitar.

Aceitar nossa pintura refletida no espelho,

O profundo da alma.

A alma que se aceita no acender da luz mais pura do nosso ser mais íntimo.

Os segredos da alma.

Eu sou aceitação.

**Histórias bordadas de maneira poética, linhas que escrevem o tempo e o coração em uma garrafa.**

**Histórias bordadas de maneira poética, linhas que escrevem o tempo e o coração em uma garrafa.**

O medo, que se transforma; o tempo, que ensina. Com sua delicadeza, tece cores novas.

Desafios surgem, perdas que se tornam saudades, ponto a ponto, na história.

As estrelas, desenhos no céu, são inspiração e reflexão. O tempo nos oferece

ensinamentos: o ciclo da vida — nascer, crescer, morrer — e o momento de contemplar as

estrelas que sempre brilham.

O tempo de viver da criança se expressa em curiosidades, buscando novas possibilidades

para transformar a dor de maneira poética. É o resgate da criança ferida dentro de nós, que

se transforma e borda novas cores. O vermelho do coração continua a bater, o ritmo da

vida é feito de momentos de medo, dor e descoberta.

O mundo é visto pela janela com um olhar assustado, onde as cores nem sempre são

alegres. Buscar o bordado da vida sem medo, com tons vibrantes, é essencial. Essa jornada

é um encontro consigo mesma e com o outro. As estrelas nos ensinam, com seu brilho, que

a jornada pode ser bordada e escrita de forma iluminada — um brilho que nunca se apaga,

que nos ensina a deixar os medos para trás e seguir em frente, bordando o novo no brilho

das estrelas e no bater do coração.

**Maria do Rosário**

**Maria do Rosário**

Maria, como Nossa Senhora,

Rosário, como uma rosa.

Pequena em tamanho,

Mas enorme em coragem.

Dona do gato Mimi

E de uma voz doce,

Ela gostava de cantar “Beijinho Doce”.

Proprietária de um aparelho de rádio,

Que às quatro da manhã já tocava uma moda sertaneja.

Nascida em Laranjeiras do Sul,

Cidade de céu azul,

Filha de um senhor polonês.

Branquinha e magrinha,

Era conhecida como Dona Pequenina.

Costurava vestidos de faixinha

Para suas pequenas filhas,

E o céu azul tinha a suavidade de sua voz doce,

Do “Beijinho Doce”.

Acompanhada pela sanfona do marido, Jorge,

Notas suaves preenchiam o ar,

Enquanto o café sempre quentinho

Descansava no bule azul.

Um dia, Maria do Rosário se foi…

Comendo uma maçã.

Eu não a conheci,

Mas sua história passa de geração para geração.

Esta história poderia estar escrita

Em um papel de carta bem bonito.