A vida, efêmera por essência, foi sempre permeada pela preocupação paterna em evitar
minha tristeza. Há quinze dias, em uma ligação marcada por lágrimas, eu expressava meu
desalento sem conseguir articular claramente meus pensamentos. Do outro lado da linha,
meu pai, pacientemente escutava : “Fale com calma, pare de chorar.” Revelava então meu
medo de solidão; ele prometeu visitar no final de semana para o lançamento do meu livro.
A memória mais vívida que guardo é nossa última conversa presencial no dia do evento,
rindo juntos ao discutir sobre minha coleção de bonecas Barbie e RBD – um sonho infantil
realizado. Ele sempre me viu como sua menina pequena, mesmo que
subconscientemente. Aquela conversa reiterou minha dualidade: uma escritora e artista
plástica com exposições ainda encantada por bonecas. O colar de pomba que ganhei em
um aniversário e as bonecas Frozen que ele me presenteou continuam a fazer companhia
em meu quarto e alimentam minhas fantasias criativas. Mesmo após o 4 de julho, quando
perdi um pouco da luz da infância com o falecimento do meu pai , continuo a abraçar a
simplicidade dos novos sonhos e a pureza de estar rodeada por minhas cachorrinhas. Este
relato foi elaborado durante uma sessão de escrita terapêutica; reflete não apenas uma
perda, mas a persistente influência paterna em minha jornada pessoal e criativa.